Acaba de ser derrubado um dos maiores mitos sobre a gravidez humana

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Jornal Ciência
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A sabedoria convencional nos faz pensar que o útero é um ambiente bastante estéril, pelo menos no que diz respeito aos germes.

No entanto, estudos recentes sobre placenta, líquido amniótico e até mesmo o primeiro cocô do bebê, disseram exatamente o contrário.

Um em especial, feito por pesquisadores australianos da Universidade Edith Cowan e da Universidade da Austrália Ocidental, observou que as nossas bactérias têm origem dentro do útero e não fora dele.

Os pesquisadores aplicaram medidas rigorosas de controle para isolar bactérias existentes no líquido amniótico e mecônio (material produzido pelos recém-nascidos e semelhantes a fezes). O resultado, segundo a bióloga reprodutiva Lisa Stinson, da Universidade da Austrália Ocidental, desafia a antiga ideia de que o útero é um ambiente estéril.

No entanto, há quem argumente que os resultados são falsos positivos e as bactérias encontradas, na verdade, são contaminantes presentes em reagentes usados ​​na análise de DNA – embora isso não tenha sido confirmado.

Considerando essa possibilidade, Stinson e sua equipe garantiram que seus materiais fossem tão limpos quanto possível, deixando pouco espaço de dúvida para a presença de qualquer bactéria na amostra antes da extração.

Algumas dessas amostras vieram de 43 mulheres grávidas que deram à luz através de cesariana. Durante o parto, 10 mililitros de líquido amniótico foram cuidadosamente coletados imediatamente na incisão e transferidos para tubos esterilizados.

No dia seguinte, 50 amostras de mecônio foram coletadas dos recém-nascidos, também tomadas com cuidado para não serem contaminados com bactérias do ambiente.

A equipe então foi em busca de sinais de DNA bacteriano. Para garantir que não houvesse genomas perdidos escondidos nos reagentes, aplicavam-nos com uma enzima que rasgaria fragmentos de DNA.

Assim, e apesar de todas as medidas tomadas, os pesquisadores ainda encontraram DNA bacteriano em quase todas as amostras.

“Curiosamente, o microbioma de mecônio variou enormemente entre os recém-nascidos individuais”, explicou Lisa. “O microbioma de líquido amniótico na maior parte continha bactérias típicas da pele, como as espécies Propionibacterium acnes e Staphylococcus”.

Dessa forma, e desconsiderando qualquer indicação de que estes eram resultados de algum tipo de infecção, os pesquisadores verificaram que era seguro presumir que as bactérias faziam parte de um processo saudável de colonizar um novo corpo humano muito antes de este vir ao mundo.

Por muitos anos foi acreditado que os bebês tinham contato com os primeiros micróbios através do parto. No entanto, as pesquisas recentes mostram que essa crença não se baseia em evidências sólidas.

Embora nosso ambiente inicial possa moldar a seleção de bactérias de nossos corpos, parece que já existem alguns “membros fundadores” em nossa pele e entranhas antes mesmo de nascermos.

“Descobrimos que os níveis de imunomoduladores importantes em mecônio e mediadores inflamatórios no líquido amniótico variaram de acordo com a quantidade e espécies de DNA bacteriano presente. Isso sugere que as bactérias do bebê ainda no útero têm o potencial de influenciar o desenvolvimento do sistema imunológico do feto”, explicou Stinson.

Contudo, é importante enfatizar que, apesar dos esforços da equipe, é impossível descartarmos categoricamente qualquer tipo de contaminação externa e isso precisa ser verificado exaustivamente antes da conclusão final.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Frontiers in Microbiology.

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / Pixabay